Um novo relatório publicado pela Cambridge University Press destaca as preocupações de proteção de dados e justiça relacionadas à identidade digital nacional do Brasil.
O artigo faz parte de uma agenda de pesquisa mais ampla desenvolvida pelo Data Privacy Brasil Research Association e focou em um estudo descritivo e qualitativo do Sistema Nacional de Identificação Civil (ICN).
“O presente documento […] visa ajudar os formuladores de políticas do Brasil a pensar em formas e soluções para evitar possíveis violações dos direitos dos titulares de dados, que surgem da implementação de um sistema de identificação unificado em todo o país”, diz o relatório.
O relatório sugere que existem tensões entre o Sistema Nacional de Identidade e as regras e princípios de proteção de dados do país.
Além disso, o relatório diz que, apesar das esperanças de inclusão resultantes da digitalização do governo e da identidade digital, elas podem gerar exclusão se mal implementadas, o que também é uma constatação de um relatório recente da ONU.
“Como mostra o estudo, a estruturação do sistema de identidade nacional […] tem sido um longo processo, com esforços de diferentes mandatos do governo federal, mas ainda não há um sistema definitivo em vigor”, diz o documento.
A reportagem menciona como, neste ano, houve o lançamento quase simultâneo de dois documentos de identidade nacional, um pelo Tribunal Superior Eleitoral e outro pelo Governo Federal.
Segundo o jornal, essas iniciativas tinham essencialmente a mesma função, somando-se, assim, a gastos governamentais e políticas públicas ineficientes.
Quanto à arquitetura de informação do banco de dados de identificação digital, o relatório alerta que um banco de dados pessoal de grande porte, composto pela fusão de outros bancos de dados e com estrutura centralizada, apresenta riscos em termos de proteção e privacidade de dados.
Isso inclui uso abusivo de dados, insegurança de dados e vigilância governamental.
Além disso, a pesquisa destaca como o grande volume de dados gerenciados como parte desses projetos de ID digital deve ter desencadeado uma avaliação do impacto da proteção de dados, o que não foi feito.
A parte final do relatório fornece algum contexto para a transformação digital do governo brasileiro. Abrindo uma discussão sobre o uso do banco de dados do ICN para acessar o gov.br, o site de acesso aos serviços governamentais do governo federal.
“O Brasil ainda apresenta graves desigualdades, especialmente relacionadas a raça e gênero, que se refletem no acesso a serviços, inclusive serviços digitais, e como estes podem influenciar em não ter uma identidade digital funcional e, portanto, não poder acessar serviços e políticas públicas por meio de gov.br.”
O relatório também destaca como as tensões entre a estrutura do ICN e a legislação local de proteção de dados apontam para a necessidade de abordar questões de proteção de dados.
“Não só, mas também o conjunto de preocupações que surgem da atual utilização do ICN para acesso aos serviços públicos revela a necessidade de olhar para o Sistema Nacional de Identidade brasileiro para além da proteção de dados”, lê-se no comunicado. Artigo de Pesquisa.
Isso deve ser feito por meio de uma perspectiva de justiça de dados, explicam os autores, pois essa abordagem considerará outras complexidades e características que, se não forem devidamente consideradas e abordadas, podem resultar em altos impactos ou riscos aos direitos dos cidadãos.
Tópicos do artigo
biometria | Brasil | protecção de dados | identificação digital | identidade nacional | privacidade | vigilância
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