O programa de vacinação COVID-19 do Brasil está sendo colocado em risco por pessoas que não comparecem para a segunda injeção, com 1,5 milhão de pessoas faltando às consultas para a dose de acompanhamento necessária para maximizar a proteção, de acordo com o Ministério da Saúde.
Especialistas dizem que isso é particularmente preocupante depois que um estudo recente do Chile descobriu que a vacina Sinovac Biotech (SVA.O) COVID-19, que respondeu por cerca de 80% do programa do Brasil, é apenas 16% eficaz após uma injeção.
“Sem as duas doses, não temos proteção total nem longa duração de proteção”, disse Juarez Cunha, chefe da Sociedade Brasileira de Imunizações, à Reuters. “Precisamos de pessoas para fazer o ciclo completo.”
Até esta semana, mais pessoas morriam de COVID-19 no Brasil do que em qualquer lugar do mundo, com o presidente Jair Bolsonaro amplamente criticado por se opor a medidas de bloqueio e empurrar remédios como a hidroxicloroquina, que fornecem pouco ou nenhum benefício. A Índia já ultrapassou o Brasil em mortes diárias.
No total, COVID-19 já ceifou mais de 380.000 vidas no Brasil, o segundo maior número de mortes no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
O programa de vacinação do país também falhou repetidamente as metas devido à escassez de doses resultante de atrasos na entrega de ingredientes ativos da China e Índia.
Agora, o fato de as pessoas não comparecerem para a segunda dose é uma preocupação extra.
Especialistas e autoridades envolvidas na campanha disseram que o baixo comparecimento parece ser devido à má comunicação, com as pessoas não percebendo a importância do segundo tiro ou simplesmente esquecendo quando deveriam ir.
Em alguns casos, eles disseram, as pessoas também podem ter ficado intimidadas por uma forte reação à primeira dose, que freqüentemente pode causar febre de curta duração e dores no corpo. Também tem havido longas filas em alguns locais de vacina, o que pode ser frustrante para grupos prioritários vulneráveis ao COVID-19.
Em resposta a um pedido de comentário, o Ministério da Saúde disse que está preparando uma campanha na mídia nacional para aumentar a conscientização sobre a importância de obter a segunda injeção. Não comentou por que tantas pessoas não comparecem para completar o ciclo de vacinação.
O ministério disse anteriormente que os problemas não se devem à falta de vacinas, com as segundas doses retidas para garantir a disponibilidade dentro do prazo.
Mas com tantas segundas doses sobrando e com a promessa de entregas futuras, o ministério mudou suas diretrizes no mês passado para permitir que todas as vacinas fossem aplicadas como primeiras doses.
Isso contrasta fortemente com o Chile, onde a estratégia de vacinação mudou para priorizar as segundas doses em vez de dar uma injeção inicial a mais pessoas.
A maior economia da América do Sul tem uma história orgulhosa de campanhas de vacinação bem-sucedidas e as pesquisas mostram que a grande maioria dos brasileiros deseja ser vacinada. Mas os cientistas temem que a mensagem sobre os segundos disparos não esteja sendo transmitida.
“As pessoas precisam acordar e ouvir todos os dias no rádio, na televisão, que tem que tomar a segunda dose, que não pode faltar”, disse Cristina Bonorino, integrante do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia.
O estudo no Chile, que analisou a eficácia da vacina entre 10,5 milhões de pessoas, descobriu que a eficácia na proteção contra doenças sintomáticas aumentou de 16% para 67% com a segunda injeção de Sinovac. Já a vacina AstraZeneca (AZN.L), que compõe o restante das inoculações no Brasil, tem 76% de eficácia duas semanas após a primeira injeção.
“Se uma pessoa não receber a segunda dose, não há garantia alguma de que a imunização funcionará”, disse Bonorino.
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