SÃO PAULO, 30 de agosto (Reuters) – Pesquisadores brasileiros descobriram que uma molécula do veneno de um tipo de cobra inibia a reprodução do coronavírus em células de macacos, um possível primeiro passo em direção a uma droga para combater o vírus causador do COVID-19.
Um estudo publicado na revista científica Molecules este mês descobriu que a molécula produzida pela jararacussu pit viper inibiu a capacidade do vírus de se multiplicar em células de macaco em 75%.
“Conseguimos mostrar que esse componente do veneno de cobra é capaz de inibir uma proteína muito importante do vírus”, disse Rafael Guido, professor da Universidade de São Paulo e autor do estudo.
A molécula é um peptídeo, ou cadeia de aminoácidos, que pode se conectar a uma enzima do coronavírus chamada PLPro, vital para a reprodução do vírus, sem prejudicar outras células.
Uma cobra jararacussu, cujo veneno é usado em um estudo contra a doença coronavírus (COVID-19), é vista no Instituto Butantan em São Paulo, Brasil, em 27 de agosto de 2022. Foto tirada em 27 de agosto de 2022. REUTERS / Carla Carniel
Já conhecido por suas qualidades antibacterianas, o peptídeo pode ser sintetizado em laboratório, disse Guido em entrevista, tornando desnecessária a captura ou criação de cobras.
“Desconfiamos que as pessoas vão caçar o jararacussu pelo Brasil, pensando que vão salvar o mundo … Não é isso!” disse Giuseppe Puorto, herpetologista que comanda a coleção biológica do Instituto Butantan em São Paulo. “Não é o veneno em si que vai curar o coronavírus.”
Os pesquisadores vão avaliar a seguir a eficiência de diferentes doses da molécula e se ela é capaz de impedir que o vírus entre nas células em primeiro lugar, segundo nota da Universidade Estadual Paulista (Unesp), também envolvida no pesquisar.
Eles esperam testar a substância em células humanas, mas não forneceram um cronograma.
O jararacussu é uma das maiores cobras do Brasil, medindo até 2 metros de comprimento. Vive na costa da Mata Atlântica e também é encontrada na Bolívia, Paraguai e Argentina.
Reportagem de Leonardo Benassatto; Reportagem adicional de Pedro Fonseca; Edição de Bill Berkrot
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