A vitória do Flamengo por 4 a 3 sobre o Bahia será difícil de esquecer. Não só pela virada que parecia impossível, mas pela expulsão de Gabigol, a denúncia de lesão racial de Gerson contra Ramirez e a consequente demissão de Mano Menezes.
Mas depois de toda a emoção envolvida, é preciso avaliar racionalmente tudo o que aconteceu na própria partida, pensando no que realmente importa para os rubro-negros: as reais chances de virar o campeonato e levar o título que hoje parece mais próximo. São Paulo , que tem uma vantagem de cinco pontos com mais um jogo.
A expulsão de Gabigol é absurda, até suspeita. Não para alimentar a teoria da conspiração de um suposto favor da CBF ao São Paulo, mas porque um árbitro que mostra cartão vermelho aos nove minutos de jogo a um jogador por xingamento proferido a metros de distância, com o apito nas costas, sabe que é interferindo diretamente com o destino de partida.
Muito diferente, por exemplo, da punição do mesmo Flávio Rodrigues de Souza ao meio-campista Daniel no final da partida ou no ano passado, ao mostrar a Fernandão um cartão vermelho aos 44 minutos do segundo tempo entre os mesmos times da Fonte Nova, com 3 a 0 no placar a favor dos baianos. O árbitro precisa considerar o contexto para aplicar o critério. Ele está lá para mediar.
As motivações para tal decisão podem ser as mais diversas, incluindo antipatia pelo clube deficiente. E os líderes rubro-negros deram boas razões para isso recentemente. Inclusive questionar sistematicamente a credibilidade de um campeonato que o Flamengo disputa e ainda pode vencê-lo, como fez o presidente Rodolfo Landim ainda no intervalo do jogo.
Mas, vamos lá, vamos dizer que a luta pelo título é realmente “contra tudo e todos”. É necessário, então, ter mais cuidado com os jogadores no trato com os árbitros, sem permitir muitas interpretações. A rigor, foi um protesto tolo de Gabigol em um claro erro técnico da própria camisa nove. Aliás, não foi a primeira vez que foi expulso por reclamação, tornando-se alvo fácil.
Você também precisa aprender a girar a chave no aspecto mental mais rapidamente. O time ficou perplexo ao perder um jogador, permitindo o domínio praticamente automático do Bahia, que quase empatou com Nino Paraíba, completando o passe de calcanhar de Gilberto.
Rogério Ceni reorganizou a equipe primeiro em 4-4-1, mas logo mudou para 4-3-1-1, com a retirada de Everton Ribeiro para a linha de meias e De Arrascaeta passando para trás de Bruno Henrique, autor do Primeiro gol em um belo chute do ângulo do goleiro Douglas, que se tornou referência para os contra-ataques. Na direita, venceu sozinho a defesa e chutou para a defesa de Douglas e sacou para Isla no segundo gol.
Mas o camisa 27 não pode cometer um erro técnico, pois o chute de fora completou um belo passe de Arrascaeta. Marcar ou não o gol depende de outros fatores, mas mesmo acertar no alvo, totalmente livre, uma bola assim é inaceitável, principalmente pelo contexto do jogo. Com 3-0 no primeiro tempo, a reação do adversário seria muito mais complicada.
É claro que Bruno Henrique merece elogios por sua atuação em geral, inclusive cumprindo um papel de esquerda que o desagradava na época de Domènec Torrent. Defendeu, atacou e participou nos outros dois golos da virada, passando para Filipe Luís cruzamento para Pedro e depois jogando no centroavante para o espetacular pivô de carta para Vitinho fazer o último gol. Mas o atacante que conquistou o prêmio de melhor jogador da Libertadores há um ano não pode falhar em uma finalização relativamente simples.
Assim como o Flamengo, que precisa de uma grande atuação nas 13 rodadas restantes, não tem o direito de voltar do intervalo de forma desconectada da partida. Mesmo com os apelos de Rogério Ceni flagrados pela transmissão da Estreia na volta a campo. A frágil Bahia de Mano Menezes permitiu a reação mais tarde. Em outro contexto, porém, os três pontos poderiam ter atrapalhado, assim como o sonho do bi.
O desequilíbrio emocional de Gerson com a lesão racial de Ramirez após o gol do meio-campista colombiano, o primeiro da equipe visitante, assim como as infelizes provocações de Mano Menezes no campo são mais do que compreensíveis. Mas o efeito prático foi a vez dos baianos com os dois gols de Gilberto. Jogadores experientes como Diego Alves, Rodrigo Caio e Filipe Luís poderiam ter evitado que o nervosismo do camisa oito contaminasse toda a equipa.
É preciso também questionar novamente as escolhas de Rogério Ceni. Assim como não foram criticados na eliminação pelo Racing na Libertadores apenas pelo revés na disputa de pênaltis, agora merecem comentários mesmo com a reviravolta.
Pedro deveria ter entrado bem antes dos 26 minutos do segundo tempo. E Arrascaeta foi mais produtivo que Everton Ribeiro, apesar do belo passe da camisa sete, minutos antes, para João Gomes chutar na trave de Douglas. O uruguaio saiu irritado com o motivo da substituição. Até porque Everton Ribeiro tem se mostrado mais perturbado do que colaborado, segurando muito a bola e errando passes simples.
Pelo comunicado na coletiva pós-jogo, exaltando Everton Ribeiro por ter saído para Diego Ribas sem reclamar, corre-se o risco de o treinador privilegiar a gestão do grupo e dar preferência aos que não entregaram na atuação, deixando Arrascaeta mesmo como uma possível “bola da vez” para deixar a equipe quando for necessário escalar Gabigol e Pedro juntos.
E o que o Ceni queria ao trocar Isla por Vitinho e colocar João Gomes de lado? O técnico demorou apenas dois minutos para perceber a besteira que fez, com o jovem meio-campista faltando uma defesa e depois falhando no suporte ao receber uma bela inversão de Gerson. Pelo menos consertou rápido colocando o Matheuzinho. Com especialista no banco e direito a cinco substituições, a improvisação era difícil de entender e tal erro em um jogo mais equilibrado poderia ser fatal.
A fibra e a força mental na virada épica merecem elogios. Mais ainda de Gerson, o melhor em campo e que também virou o jogo contra o preconceito. O triunfo pode servir de alavanca para a disputa que tende a se polarizar entre São Paulo e Flamengo com a queda do Galo e o foco do Guilda, Palmeiras e Santos em eliminatórias.
Mas os rubro-negros precisam estar melhor preparados para o inesperado. Como Ceni se inspirou tanto em Jorge Jesus, ele poderia usar as semanas livres para treinar o time com um jogador a menos, como fizeram os portugueses e foi muito útil, por exemplo, no 3-0 sobre o Independiente Del Valle no Maracanã pela Recopa Sul-americana . A equipe sabia claramente o que fazer em campo, apesar da desvantagem numérica. Bem diferente da aleatoriedade contra o Bahia.
O início do jogo, com intensidade, pressão no campo de ataque e velocidade para surpreender um adversário cuja proposta inicial era fechar para trás, deve servir de referência. Além do golaço de Bruno Henrique, Gabigol teve a chance de expandir em uma jogada bem coordenada pela direita entre Everton Ribeiro e Isla. Fica o norte a seguir, já da próxima rodada, fora de casa contra o Fortaleza. Sem Filipe Luís, castigado pelo terceiro amarelo, mas talvez com o regresso de Willian Arão, a recuperar de lesão numa coxa.
O Flamengo continua dependendo apenas de você para levar os cinco pontos do São Paulo. Mas para vencer o Grêmio em Porto Alegre no jogo que falta para completar as 26 rodadas e chegar à 38ª e final com chances de fazer uma “final” com o time de Fernando Diniz no Morumbi, é preciso errar menos no caminho. Muito menos.
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