Governo brasileiro demite chefe de meio ambiente em possível represália

RIO DE JANEIRO (AP) – O governo do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro demitiu um alto funcionário ambiental em um possível ato de retribuição, poucos dias depois que ele apareceu em uma reportagem sobre mineração ilegal de ouro na floresta amazônica para a emissora de televisão brasileira Globo.

A demissão de Samuel Vieira de Souza, coronel reformado do Exército e diretor do órgão ambiental IBAMA, foi publicada quinta-feira no Diário Oficial do país.

Recentemente, De Souza permitiu que uma equipe da TV Globo acompanhasse uma operação da agência contra garimpeiros na Terra Indígena Yanomami e concedeu uma entrevista em câmera. A peça foi ao ar domingo no programa Fantástico, da Globo. Bolsonaro, que está concorrendo à reeleição, tem sido um defensor declarado do fomento da atividade econômica nos territórios indígenas, particularmente prometendo a regulamentação da mineração em áreas onde atualmente é ilegal.

Seria uma “grande coincidência” se Souza fosse demitido por qualquer motivo que não fosse a reportagem da Globo, disse Alex Lacerda, chefe do sindicato que representa as autoridades ambientais do país, à Associated Press.

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O segmento da Globo denunciou o empresário Rodrigo Martins de Mello, um apoiador de Bolsonaro que foi acusado de envolvimento com mineração em terras protegidas da Amazônia, que o presidente prometeu repetidamente legalizar. De Mello, que está concorrendo a uma cadeira no Congresso, negou anteriormente qualquer irregularidade por meio de seu advogado.

Mas o governo brasileiro deu uma explicação diferente para o afastamento de Souza. A agência ambiental disse que ele fará parte de um grupo de trabalho de combate ao crime ambiental internacional, como assessor especial do Ministério do Meio Ambiente. O enviado climático dos EUA, John Kerry, é um dos líderes dessa iniciativa.

O grupo de trabalho foi criado durante a Cúpula das Américas, realizada em junho em Los Angeles.

De Souza é um dos vários oficiais militares nomeados por Bolsonaro para cargos-chave nas agências indígenas e ambientais do país que tinham pouca ou nenhuma experiência nos campos. O presidente chamou as autoridades ambientais e indígenas de carreira de radicais e, durante seu mandato, suas agências foram prejudicadas.

A destituição de De Souza pode ser paralela a um episódio em abril de 2020, quando Olivaldi Azevedo, outro militar, foi demitido logo após a Globo exibir um trecho com uma operação contra grileiros dentro de um território indígena.

Durante anos, Bolsonaro acusou a Globo e vários outros grandes meios de comunicação de cobertura injusta que favorece a oposição. Em fevereiro de 2021, ele ergueu uma grande placa com os dizeres “GLOBO TRASH” enquanto uma multidão de seus apoiadores aplaudia.

Lacerda, do sindicato dos ambientalistas, disse em entrevista por telefone que o coronel aposentado não deveria ter sido nomeado para seu cargo no IBAMA em primeiro lugar.

“Nossa luta é para que apenas as autoridades ambientais ocupem esses cargos. São cargos técnicos”, disse. “Desde que o governo começou a demitir funcionários, o Brasil viu um desmatamento recorde.”

Bolsonaro lançou esta semana sua campanha para a reeleição, com a votação do primeiro turno a pouco mais de seis semanas. Em 22 de agosto, ele aparecerá no noticiário noturno da Globo para sua primeira entrevista com a emissora em anos.