A grande maioria do desmatamento na Amazônia brasileira é ilegal, e a promessa do presidente Jair Bolsonaro de eliminá-lo parece duvidosa, dada a falta de transparência sobre o uso autorizado da terra, disseram os pesquisadores na segunda-feira.
Sob pressão para conter a destruição da Amazônia, Bolsonaro prometeu no mês passado em uma cúpula mundial do clima para eliminar o desmatamento ilegal até 2030.
Mas quase nenhum desmatamento pode ser considerado totalmente legal no Brasil, visto que as autoridades não estão implementando adequadamente as leis sobre o rastreamento de quanto e onde a terra está sendo desmatada sob licença, disse o relatório, publicado por um grupo de pesquisadores universitários e especialistas de organizações ambientais incluindo o World Wildlife Fund Brasil e o Instituto Centro da Vida.
O relatório constatou que 94 por cento do desmatamento na Amazônia brasileira e na região do Matopiba é ilegal.
Isso ocorre em parte porque, mesmo nos casos em que fazendeiros, pecuaristas, madeireiros e outros têm permissão para desmatar a terra, as autoridades não conseguem documentar como essas permissões estão sendo usadas no terreno, disse o relatório.
“A diferenciação entre desmatamento legal e ilegal é um fator chave para garantir que a produção agrícola e florestal brasileira não seja contaminada por crimes ambientais”, afirmou.
Bolsonaro presidiu uma onda de desmatamento na maior floresta tropical do mundo desde que assumiu o cargo em 2019.
Nos 12 meses até agosto de 2020, o desmatamento na Amazônia brasileira aumentou 9,5 por cento, destruindo uma área maior que a Jamaica, de acordo com dados do governo.
O presidente de extrema direita enfrenta pressão internacional para limpar a imagem ambiental de seu governo – e reação de empresas preocupadas com o impacto dessa imagem no maior exportador mundial de carne bovina e soja.
“Bolsonaro fez aquela promessa de ‘desmatamento zero’, mas como saberemos se as informações necessárias não estiverem disponíveis?” Paula Bernasconi, coordenadora do Instituto Centro da Vida, disse à AFP.
“Precisamos urgentemente de mais esforço técnico e vontade política para implementar as leis brasileiras de meio ambiente e transparência”, disse seu coautor Raoni Rajao, da Universidade Federal de Minas Gerais.
“Do contrário, a falta de transparência continuará servindo de escudo para a destruição contínua de nossos ecossistemas”.
jhb / mdl
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