Este artigo foi escrito exclusivamente para o The European Sting pela Sra. Mariane Catarina Tavares Salton e pela Sra. Gabriela Oliveira da Silva, duas alunas do segundo ano de medicina da Unicesumar, Maringá, Brasil. Eles são afiliados à Federação Internacional de Associações de Estudantes de Medicina (IFMSA), parceiro cordial do The Sting. As opiniões expressas nesta peça pertencem estritamente aos escritores e não refletem necessariamente a visão da IFMSA sobre o assunto, nem da The European Sting.
Apesar de 195.725 mil mortes e 7.716.045 milhões de casos em 20201, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, insiste em ignorar a situação crítica do país, contrariando o conhecimento científico. Os brasileiros, principalmente seus seguidores, são influenciados por seu discurso que defende medicamentos off-label, que não apresentam evidências sobre a eficácia no tratamento do coronavírus, e sua posição antivacinal. Ele já disse que a vacina pode transformar as pessoas em crocodilos. Além disso, o bloqueio foi desestimulado por ele, gerando conflitos com os governadores e prefeitos que adotaram essa estratégia.
A pandemia da Covid-19 aumentou a automedicação e os medicamentos prescritos off-label no país. Os “kit-covid”, que é composto por hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, ivermectina, nitazoxanida, suplementos de zinco e vitaminas C e D, foram incentivados até pelo Ministério da Saúde2. Isso reflete a falta de informação da população, além da influência indevida do governo e a divulgação de notícias falsas, que podem trazer riscos à saúde pública.
Desde 1973, o Brasil possui um Programa Nacional de Imunizações (PIN) com o objetivo de coordenar as ações de imunização. Hoje, esse programa faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e foi responsável pela erradicação da varíola e da poliomielite e pelo controle de diversas doenças3. Embora exista este programa eficiente, a vacinação do COVID-19 no Brasil ocupa a terceira posição na América Latina, atrás do Chile e Uruguai4. Quase 5,06% dos brasileiros receberam duas doses da vacina CoronaVac ou Astrazeneca5.
Embora o lockdown seja importante para reduzir a incidência de COVID-19 e mortalidade, o Brasil não teve um lockdown verdadeiro em nenhuma de suas regiões, pois poucos departamentos foram fechados. Como consequência, mesmo a primeira onda não foi controlada no Brasil.
Nesse sentido, as lições aprendidas do ano passado não foram implantadas no Brasil, de modo que a expressão “melhor prevenir do que remediar” não foi seguida. Com isso, no início de 2022, Manaus (AM) teve um aumento de casos e óbitos, associados à circulação da nova variante P1 no estado, marcando o início da segunda onda no país6. No momento, o sistema de saúde brasileiro está sobrecarregado, com aumento da ocupação em terapia intensiva e esgotamento dos profissionais de saúde, prejudicando a saúde mental e aumentando os casos de burnout.
Os cientistas estão prevendo a terceira onda no Brasil, se nada for feito para controlar a atual crise no país. Hoje, o Brasil é considerado mundialmente o epicentro da pandemia, ameaçando todo o esforço da comunidade internacional para controlar a pandemia e permitindo o surgimento de novas variantes4.
Referências
- Brasil. Ministério da Saúde. Coronavirus Brasil [Internet]. 2022 [cited 2022 apr 21]. disponível a partir de https://covid.saude.gov.br/.
- Melo JRR, Duarte EC, Moraes MV, Fleck K, Arrais PSD. Automedicação e uso indiscriminado de medicamentos durante a pandemia de COVID-19. Cad Saúde Pública. 2022; 37 (4): e00053221.
- Brasil. Ministério da Saúde. Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização – Apresentação [Internet]. [cited 2022 apr 21]. disponível a partir de http://pni.datasus.gov.br/apresentacao.asp.
- Horton J. Covid-19: Por que as mortes dispararam no Brasil? [Internet]. 2022 [cited 2022 apr 21]. BBC Notícias. disponível a partir de https://www.bbc.com/news/world-latin-america-56663217.
- G1 – São Paulo. Mapa de vacinação da Covid-19 no Brasil [Internet]. 2022 [cited 2022 apr 21]. G1. disponível a partir de https://especiais.g1.globo.com/bemestar/vacina/2021/mapa-brasil-vacina-covid/.
- Marquitti FMD, Coutinho RM, Ferreira LS, Borges ME, Portella TP, Silva RLP, et al. Carta à Comunidade Científica: Brasil enfrenta novas variantes do SARSCoV-2 [Internet]. 2022 [cited 2022 apr 21]. Scielo Preprints. Disponível em https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/2001/version/2120.
Sobre o autor
Mariane Catarina Tavares Salton, 22 anos, é médica do segundo ano da Unicesumar, Maringá, Brasil. É coordenadora local da IFMSA Brasil Unicesumar, e membro da Liga Acadêmica de Clínicas Médicas (LACMMA).
Gabriela Oliveira da Silva, 22 anos, é aluna do segundo ano de medicina da Unicesumar, Maringá, Brasil. Ela é coordenadora local e membro da equipe de atividades locais da IFMSA Brasil Unicesumar. É também vice-presidente da Liga Acadêmica de Clínica Médica de Maringá (LACMMA).
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