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Brasília (AFP) – Faltam mais de quatro meses para o início oficial da campanha para as eleições de outubro no Brasil, mas o titular de extrema-direita Jair Bolsonaro e o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva já estão no modo candidato.
Nenhum dos dois favoritos declarou oficialmente uma candidatura, e ambos estão tentando não cruzar a linha para uma campanha real – barrada pela lei eleitoral brasileira até agosto.
Isso significa nada de comícios eleitorais e nada de pedir às pessoas que votem neles ou contra o adversário.
Mas deixa uma ampla área cinzenta de atividades que se parecem muito com campanha, com o maior país da América Latina já profundamente polarizado a seis meses da votação.
“Oficialmente, a campanha começa no dia 16 de agosto, mas até lá essas atividades (de Bolsonaro e Lula) só vão aumentar”, disse o cientista político André Cesar, da consultoria Hold.
“Vamos ver uma campanha ‘não-campanha'”, disse ele à AFP.
Os dois pesos-pesados têm realizado um fluxo constante de não comícios oficialmente chamados de eventos de partidos políticos, cerimônias de inauguração, reuniões de alto nível com elites políticas e celebridades e uma agenda frenética de entrevistas na mídia.
Bolsonaro chegou a definir uma data para anunciar oficialmente sua candidatura – mas depois rebaixou o evento de 27 de março para uma “condução de filiação” para seu Partido Liberal, cujos advogados supostamente temiam que ele violasse a lei eleitoral se declarasse.
‘Bem contra o mal’
Mas o titular de 67 anos parecia bem em seu caminho para polir seu discurso de toco.
O Brasil está enfrentando “uma luta do bem contra o mal”, disse ele a apoiadores no evento.
Lula, o ex-mecânico de 76 anos que liderou o Brasil de 2003 a 2010, esteve no Rio de Janeiro na quarta-feira para se reunir com figuras importantes da esquerda latino-americana, que clamavam por seu retorno.
“Este é o líder regional que a América Latina precisa”, disse o presidente argentino Alberto Fernandez.
Lula, que era muito popular como presidente, mas depois preso por acusações de suborno em 2018, tem sido o favorito desde que a Suprema Corte do Brasil anulou suas condenações por motivos processuais no ano passado, abrindo caminho para ele concorrer novamente.
Atualmente, ele tem 43% dos votos para as eleições de 2 de outubro, contra 26% para Bolsonaro, na última pesquisa do instituto Datafolha, divulgada em 24 de março.
Cesar coloca a probabilidade de um segundo turno Bolsonaro-Lula em 30 de outubro em 95%.
Apesar de um empurrão do centro político para um candidato de “terceira via”, nenhum está atualmente nas pesquisas de dois dígitos. E um dos nomes mais conhecidos, o ex-juiz anticorrupção Sergio Moro, anunciou na quinta-feira que estava se afastando.
A essa altura, “Lula tem mais a perder do que Bolsonaro”, disse Cesar.
“Ele está liderando as pesquisas, mas não detém o poder nem a pena executiva. Quem tem a máquina do governo federal na ponta dos dedos é o presidente Bolsonaro.”
Bolsonaro tem participado de uma série de inaugurações de obras públicas, inclusive nos tradicionais bastiões de Lula, e recentemente lançou um grande novo programa de assistência social que os críticos chamam de estratagema eleitoral velada.
Transbordo de estranheza
Alguns especialistas dizem que a lei eleitoral brasileira é muito branda em fazer campanha antes da campanha.
“O principal limite estabelecido pela lei é que eles não podem pedir votos. É uma exigência muito formalista que é muito fácil de se esquivar”, disse o professor de direito Michael Mohallem.
Mas as autoridades estão observando com atenção, disse Cesar.
“Um movimento abrupto, um ato excessivamente explícito, pode causar sérios problemas”, disse ele.
A estranheza da não-campanha está se espalhando para outras partes da vida brasileira.
No último fim de semana, a pedido do partido de Bolsonaro, um juiz do Tribunal Superior Eleitoral proibiu declarações políticas de músicos no festival Lollapalooza, em São Paulo, depois que um cantor brandiu uma faixa de Lula e outros artistas criticaram Bolsonaro.
A liminar provocou protestos do mundo cultural. Alguns dos principais nomes da música brasileira, incluindo a lenda viva Caetano Veloso e a estrela pop Anitta, o condenaram como “censura”.
O partido de Bolsonaro posteriormente retirou sua queixa, levando o juiz a revogar sua decisão.
© 2022 AFP
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