O Brasil está entre os países com o menor número de engenheiros em relação à população. Enquanto a Coreia, a Rússia, a Finlândia e a Áustria contavam com mais de 20 engenheiros para cada 10 mil habitantes, o Brasil registrava, em 2014, apenas 4,8 graduados em engenharia para o mesmo universo de pessoas, em 2014. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sistematizados pela Associação Nacional de Educação em Engenharia (Abenge), apesar do ingresso em cursos superiores ter aumentado, passando de 6,5% para 15,1%, entre 2001 e 2016, a evasão aumentou de 5,1% para 10,6% no mesmo período.
Em 2017, no estado de Sergipe, mais de 2,3 mil alunos ingressaram em cursos de engenharia. Em contrapartida, 5.343 desistiram da graduação, de acordo com o Censo da Educação Superior. Desse número, 1.985 se desvincularam da universidade, 3.128 trancaram a matrícula e 230 trocaram de curso. No ano passado, o estado ofereceu mais de 5,5 mil vagas distribuídas entre cursos ofertados por instituições públicas e privadas nas áreas de engenharia, como engenharia civil, elétrica, mecânica, computação, química, engenharia de produção, materiais e automotiva.
Na Universidade Federal de Sergipe (UFS), onde ingressam aproximadamente 750 alunos nos cursos de engenharia, por ano, a taxa de evasão foi de 35%, em 2017. Segundo o vice-diretor do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas (CCET) da UFS, Eduardo David Ordonez, a desistência costuma ocorrer entre o primeiro e o segundo ano da graduação, quando são ministradas as disciplinas mais básicas. “Uma das principais causas da evasão é o nível com que os alunos estão ingressando nas universidades. Do ponto de vista técnico, as pessoas estão apresentando muita dificuldade na área de matemática, principalmente na área de cálculo”, explica.
Além da dificuldade com os cálculos, os alunos também costumam apresentar baixo desempenho em português e mostram entrar na universidade sem realmente conhecer o perfil de cada profissão. Uma das saídas encontradas pela UFS foi a implantação de monitorias, uma espécie de reforço para os alunos com dificuldades poderem acompanhar o aprendizado, realizadas pelos próprios alunos.
Neste ano, a universidade também passou a realizar uma semana acadêmica para recepcionar os calouros. Durante esse período, os docentes apresentam, aos alunos que estão ingressando, todos os departamentos CCET, os cursos, o currículo de cada um e os perfis de profissionais para as respectivas áreas escolhidas. De acordo com o vice-diretor, as medidas têm auxiliado no controle da evasão, que ainda continua alta.
Para a diretora de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e superintendente nacional do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Gianna Sagazio, o alto índice de desistência mostra a fragilidade e a necessidade da modernização do ensino de engenharia, que, segundo ela, ainda segue o modelo idealizado há mais de 30 anos. “O mundo está mudando muito rapidamente e a gente precisa preparar os nossos profissionais, os nossos engenheiros, para enfrentar esses desafios que já estão colocados aqui. Se não tivermos engenheiros preparados para os impactos dessa revolução digital, não conseguiremos ser competitivos e nem gerar qualidade de vida para a nossa população”, ressalta.
Em junho de 2018, a CNI encaminhou, aos candidatos à presidência da República, propostas para a atualização do currículo dos cursos de engenharia identificadas a partir de um trabalho conjunto entre a CNI, líderes empresariais e reitores de importantes universidades, no âmbito da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI).
A diretora explica que foram definidos três eixos estratégicos para modernizar o ensino das engenharias no país: a modernização das diretrizes curriculares e metodologias, aprimoramento do sistema de avaliação e a valorização do trabalho dos docentes. De acordo com Gianna, para o Brasil avançar e se tornar um país inovador “é importantíssimo que a formação privilegie o domínio das competências ligadas ao desenvolvimento e à gestão de projetos, habilidades como o empreendedorismo, a liderança, a criatividade, a facilidade de trabalho em equipes multidisciplinares e a capacidade de aprendizagem autônoma”.
Reportagem Aline Dias/Agência do Rádio Mais