Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgados este mês pelo Governo Federal, revelam a defasagem do Ensino Médio no Brasil e reforçam a necessidade de uma mudança na matriz educacional, principalmente, no último período regular de aprendizagem. Em todo o país, o Ensino Médio ficou aquém das metas estipuladas para as redes escolares em 2017. No Nordeste, não foi diferente. Tanto na meta geral como nas estabelecidas para as instituições estaduais e privadas, o estado não teve o desempenho esperado. Para o Ensino Médio, o índice do Nordeste ficou em 3,5, quando a meta era 4,4.
Formulado para medir a qualidade da educação, o Ideb reúne, em um só indicador, os resultados de dois fatores importantes do processo educativo: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações de língua portuguesa e matemática. O Ministério da Educação (MEC) informou que, após três edições consecutivas sem alteração, o Ideb do Ensino Médio avançou apenas 0,1 ponto em 2017. De 3,7 em 2015, atingiu 3,8 no ano passado. Apesar do crescimento, o país está distante da meta projetada. O objetivo é fazer com que o Brasil atinja a média 6,0 em 2022 (mesmo patamar educacional da média dos países participantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Na região do Nordeste, ainda referente ao Ensino Médio, a meta para a rede estadual era de 4,0, mas as escolas só chegaram a 3,5. Já na rede privada, o índice conquistado foi de 5,5, também abaixo da meta de 6,4. A busca de soluções para os problemas no ensino brasileiro faz parte de uma agenda do setor produtivo para incentivar a pauta entre os candidatos à presidência da República. Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) levanta o que pode ser um dos gargalos do Ensino Médio no país: número excessivo de disciplinas, currículos ultrapassados, que não despertam o interesse do jovem do século XXI e não atendem as necessidades de inserção profissional.
Segundo o diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi, é necessário criar condições para implantar a nova Lei do Ensino Médio e revisar marcos regulatórios, a exemplo da aprendizagem profissional. “Em certa medida, a reforma do Ensino Médio é positiva nessa direção. Estabelece deveres positivos e, como somos uma democracia, e uma democracia inclusiva, e é importante o alcance integral do entendimento dessa palavra, temos no Brasil grande contingente da população adulta brasileira com baixa escolaridade, e tem que se dar atenção a esse contingente até porque é o contingente, sociologicamente falando, mais fragilizado”, pondera.
Reestruturação do Ensino Médio
Na região Nordeste, há 153 municípios com o Ideb igual ou superior a 6,0, sendo 93 no Ceará. Por outro lado, cerca de 30% das escolas municipais não alcançaram um Ideb de 3,5. A partir de uma análise do desempenho das escolas estaduais de Ensino Médio instaladas nos diferentes municípios do estado e divulgadas pelo Ministério da Educação, percebe-se que, em quase a metade dos municípios das regiões do Nordeste (48,1%), o desempenho no Ideb é inferior a 3,1.
Segundo a doutora em Educação e especialista em Avaliação da Aprendizagem da Universidade Estadual do Ceará Ana Maria Bezerra de Almeida, existe uma necessidade de reestruturação em relação ao Ensino Médio, que não pode ser baseada apenas na reforma proposta e aprovada pelo Governo para reformulação da grade curricular. Para ela, se trata de questões que estão nas raízes mais profundas, sobre o papel do Ensino Médio no país. “Ainda existe muito essa indefinição de qual o papel do Ensino Médio dentro da educação básica. Quais os rumos? Traçado isso, no papel, a finalidade, fica mais fácil, coerente redefinir o currículo”, explica.
Ainda segundo Ana Maria, algumas das mudanças passam pelo equilíbrio do ensino oferecido para alunos das escolas públicas e particulares; parceria do MEC com os estados em termos de recursos; formação continuada dos professores e gestores, além da valorização do magistério, com equiparação salarial dos professores. “O Ideb provém de um sistema avaliativo, gera as circunstâncias que devem direcionar políticas do MEC em relação a distribuição de recursos, tecnologia, de formação do professor. Gera as circunstâncias para que sejam tomadas decisões sobre a melhoria de ensino e de aprendizagem nos sistemas estaduais e municipais. Quando estamos diante de resultados que ainda não são os ideais, penso que o esperado é que esses resultados gerem políticas de melhoria de ensino na educação básica brasileira”, pondera a doutora.
Pernambuco
Mesmo os estados que alcançaram a meta geral do Ideb não conseguiram demonstrar o mesmo sucesso quando o assunto é o Ensino Médio. Pernambuco, por exemplo, foi uma das sete unidades da Federação a alcançar a meta proposta para tal ano, que era de 4,2, mas no Ensino Médio, no entanto, obteve nota de 4,1, abaixo da projeção, que era 4,4. Nos anos iniciais do ensino Fundamental, que vão do 1º ao 5º ano, o índice do estado chegou a 5,2, em 2017, quando a meta era de 4,9. A rede de escolas públicas e particulares de Pernambuco recebeu a nota de 4,4 nos anos finais do ensino Fundamental no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb) referente ao ano de 2017. O Ideb é o principal indicador sobre a qualidade do ensino no Brasil.
Ceará
O Brasil superou a meta prevista nos anos inicias do Ensino Fundamental em 2017. O Ceará se destaca por ter superado a meta proposta para 2017 em 1,4 ponto. Foi o sexto estado do país e o primeiro da região Nordeste com melhor marca no Ideb referente aos anos iniciais (1º ao 5º) do ensino Fundamental de 2017. O estado também superou a meta nos anos finais (6º ao 9º).
Reportagem: Camila Costa / Agência do Rádio Mais